Roleta Russa

Rodei o gatilho, como em roleta russa. Olhei para minha vítima; chorava. Em prantos, implorando por piedade. Eu não teria; eu não podia. Aquilo ali era a minha vida e vingança do passado. Eu precisava completar minha missão e depois puxar um cigarro do bolso e fumá-lo. Ir até o carro e tomar uns goles do meu uísque envelhecido. Era a minha alma, era mais que o meu subconsciente. Era plausível. Muito mais que tangível. Era desejo, era intrínseco.

Ela continuava ajoelhada, clamando a Deus, para que tivesse piedade. Mas quem precisava de piedade ali era eu. Eu era o assassino. Eu tinha o revólver na mão.Mas então puxei o cigarro do bolso. Joguei o revólver no chão e a olhei. Dei as costas. Fui embora. Tragando minha nicotina, minha droga preferida. Mas ouvi os ruídos.

Olhei para trás, então. E eu era a vítima. A filha da puta me atirou.

Entendendo "Alejandro"

Como você deve saber, há pouco dias foi divulgado pela VEVO o novo clipe de Lady GaGa. "Alejandro" chegou causando impacto, garantindo mais de 3 milhões de exibições no Youtube em poucas horas. Porém, além do impacto, "Alejandro" chegou causando polêmica. As cenas religiosas no clipe acabaram por irritar certos religiosos, que se arriscaram a dizer que a cantora estava blasfemando contra Deus. As menções ao regime nazista da Alemanha também fizeram com que o clipe fosse, mais uma vez, vítima de críticas bombásticas.
Porém, me pergunto, será que realmente entenderam o sentido do vídeo? Será que viram o significado, a mensagem que há por trás de toda àquela arte? Pois vamos lá.


Referência à Alemanha nazista: É possível ver a neve caindo, o espaço parece um campo de concentração e os dançarinos parecem treinar. É um treinamento militar, e tudo isso representa a ditadura militar comandada por Hitler que aconteceu na Alemanha anos atrás.
Significado: GaGa queria nos mostrar, com isso, que mesmo hoje em dia vivemos em uma espécie de ditadura militar. Ela defende o amor homossexual, e a sociedade ainda rejeita, o preconceito ainda é imenso. É uma ditadura! Ou não?

Gays e sexo: GaGa é visivelmente apaixonada por Alejandro, Fernando e Roberto. O ruim da situação é o fato de os três serem gays, portanto, não a querem. GaGa então os prende em um quarto, com três camas (um em cada cama, dã), para que ela possa aproveitar deles sexualmente. O salto alto em cada dançarino indica o lado feminino presente neles.



Religiosidade: GaGa, cansada de sofrer amorosamente por Alejandro, Fernando e Roberto, decide virar freira. Assim ela achava que, impondo a religião, não teria mais de gostar deles.
Há então uma cena em que
GaGa é aclamada por todos os dançarinos gays: O voto da abstinência os deixa felizes, pois ela não teria mais de abusá-los.



Simbolismo: As cruzes invertidas causaram polêmica. Mas calma aí. Os religiosos de plantão deveriam saber. Essas são as cruzes de São Pedro, e não apenas cruzes invertidas usadas em rituais satânicos!







Engolindo o terço: Representa apenas mais uma parte da ditadura que vivemos hoje em dia. Vivemos em um mundo hipócrita e engolimos a religião de cabeça baixa, sem questionar a nada. Há também quem diga que GaGa engole o terço para interiorizar sua fé. Quem sabe? Das duas formas, não é blasfêmia.




Unissexualidade: Quando GaGa aparece vestindo uma roupa mais discreta e o corte de cabelo idêntico ao corte dos dançarinos, ela quer representar a unissexualidade. Sem julgar sexo, opção sexual e etc. Somos todos iguais.





Enterro e coração: No caixão, é Alejandro. GaGa o mata. Na mão dela, o próprio coração. Com uma estaca. Seu sofrimento é representado; ela não tem mais Alejandro.






Cordas: Perceba que GaGa e o militar estão presos por cordas suspensas. Isso representa a marionete que somos da sociedade. Somos marionetes do padronismo, onde seguimos as coisas porque a sociedade impõe. Mais uma crítica.





Fim: GaGa parece se desmaterializar no fim do vídeo. Representa a morte espiritual da cantora. Após perder Alejandro de todas as formas, a angústia e frustração tomou totalmente conta dela. Assim, sua morte não é física. É espiritual.





Bem, eu sei que não sou o melhor explicador pra este vídeo tão polêmico e enigmático, mas eu só queria que enxergassem o verdadeiro sentido dessa OBRA DE ARTE que GaGa nos disponibilizou, ao invés de ficarem falando merda por aí. Beijos.

Reflections: "Espero que não se importe" + "Promessa"

> O que são Reflections?
Reflections é como eu costumo nomear os textos que escrevo geralmente quando uma forte emoção toma conta de mim - seja amor, ódio, frustração, tristeza etc. Portanto, não se assustem com o que podem ler nesta coluna.
E, ah! Sim, são reflexões! Mas não tão explícitas. Procure buscar o mais fundo possível, entenda o texto, incorpore-o a você!
Comentem o que entenderam e se gostaram. Opiniões são sempre bem-vindas :D


1. Espero que não se importe

Eu nunca quis dizer isso... Tosco. Ridículo? Ou pura necessidade.

É. Solução. Um manual de instruções não me guiou até você. Eu te encontrei. Não usei um guia. Não usei a bola de cristal que eu guardo no armário. Eu me usei. Na verdade, meu coração me usou. Eu fui usado. Como um boneco; uma marionete.

Mas infelizmente eu fui vítima. Fui golpeado, senti um solavanco no peito e arfei. Ofegante, enquanto as lágrimas densas escorriam pelo meu rosto. Mas eu te olhei, mesmo que você não me olhasse.

E eu quis dizer, eu queria muito dizer. E eu espero que você não se importe. Mas eu preciso de você. Eu te amo.

2. Promessa

Era a segunda noite que eu não conseguia dormir. A luz do luar incidia na minha escrivaninha, atravessando a horrorosa janela de mosaico do hotel.

Nada será como antes, agora eu tenho certeza. Eu nunca me imaginei, em toda minha vida, chorando por alguém ― tão intensamente, como se minha vida dependesse disso. Eu nunca fora tão supérfluo, tão sensível. Talvez, agora que você se fora, eu tenha aprendido o que é amor e o que é valor. Qual a diferença entre os dois?

Agora eu sei.

Só não sei se gritar adiantaria alguma coisa. Duvido que você me ouviria ― nem se quisesse. Agora você está longe, como nunca esteve antes. A água do mar respinga no seu rosto, você sente a brisa leve tocar-lhe os cabelos... E eu, continuo aqui, prometendo a mim mesmo que nunca amarei novamente.


Fardo

Não me importo se é doloroso. Não me importo se não há procedências plausíveis, tampouco se os outros gostarão. Não me importo se será útil, ou se vai me despedaçar. Também não quero saber se vai ser bom para você. Eu quero poder sentir, de verdade, o que eu quero sentir. Eu quero poder dizer que você é minha, porque isso me faz bem. Ter você me faz bem.
Não me importo com a imagem que será refletida aos outros, e nem com o peso que isso vai exercer. Não me importo com o fardo que terei que carregar, nem com o que vão falar. Nada mais me importa, nada mais consegue ser acessível aos meus dinâmicos olhos, à minha visão periférica do que é bom para mim.Na verdade, me importa sim se vai ser bom pra você. Minha recompensa vai ser ver você sorrir e dizer que, finalmente, está dando certo (ou não). Mas realmente, só sei que nada sei. E nada me importa. E nada mais eu gostaria de ter ou saber. Eu só quero você aqui. Vem, e nós podemos escrever um romance ruim. Não importa. Eu compro, leio e releio, quantas vezes isso me fizer bem.

inspiração em "Bad Romance by Lady GaGa".


O peso de Atlas

Eu estaria completamente errado se dissesse que meu coração fala a verdade. Quando tudo parece estar finalmente se encaixando, quando as coisas estão finalmente indo ao seu lugar correto, o teto desaba. Eu ainda me vejo aprisionado. É como sair de uma cela e pular para outra. Eu não posso me ver livre sem antes admitir que ainda estou escravizado.
Escravizado por tal sentimento que me perturba ao dormir, ao acordar e também ao desenvolver do dia. Mas a esperança é a última que morre. Ou não? Ou será que há uma hora em que nem mesmo a esperança é capaz de revigorar seus sentimentos e lhe dar forças para olhar pra frente, suportar o peso de Atlas?
Aí é difícil.
Mais difícil ainda quando você já não é mais tão capaz de acreditar naquilo que você acreditava ontem. Quando tudo que, por algum motivo, lhe era crível, torna-se quase irrevogavelmente inacreditável. Aí, sim; é quando o peso de Atlas cai sobre o meu corpo.
Mas eu prefiro continuar aqui, acreditando que um dia dará certo. Afinal, eu ainda estou escravizado.

Asfódelos III

ps: Antes de ler este post, certifique-se de que já leu Asfódelos I e Asfódelos II.


Era estranho pensar sobre o amor, estando morto e condenado eternamente ao Campo dos Asfódelos. Se ao menos eu tivesse alcançado Ísis, onde a prosperidade reina excessivamente... Mas não. Eu estava nos Asfódelos.
Era incrivelmente grande. A cada dia, chegavam centenas de novos mortos aos Asfódelos. Hades estava até irritando-se, por ter que arrumar maneiras mirabolantes de comportar todos aqueles mortos lá dentro.
Eu gostava de assistir aos julgamentos. Sempre que uma alma era condenada ao Tártaro, era terrível. Elas gritavam de desespero. Passar a eternidade no Tártaro não é lá algo que se deseje muito.
Mas enfim... Após eu ter descoberto que Mary, na verdade, era Sally, tudo tornou-se mais obscuro. Raramente eu a via, e estava sempre no Bosque Gótico, vagando desorientada. Mas eu a entendia. Meu primeiro ano nos Asfódelos fora horrível, onde eu também vagava desorientado pelos Bosques e Florestas amaldiçoadas, sem saber o que "fazer".
Sentei-me, um dia, sob a copa de um eucalipto envelhecido. Sally estava cerca de seis metros adiante, "cuidando" de azaleias murxas, a feição inexpressiva. Levantei-me, então, e tentei falar. Mas quando tu és morto e estás há muito tempo nos Asfódelos, tua voz torna-se fraca, quase inaudível. Então, ao sair a primeira palavra xoxa, eu desisti.
Sally olhou-me assustada. Acho que a espantei, pois logo ela largou as flores e saiu, vagando tristonha, rumando a qualquer outro lugar sombrio daquele mundo.

Asfódelos II

Em todos os meus vinte e sete anos de pós-morte, nunca havia sequer pisado nos Asfódelos algo tão magistral como aquela moça. Seu espectro, que possuía curvas divinas, emanavam uma ofuscante luz encantadora, que quase fazia meus olhos mortos brilharem.
Embora morta, Mary - foi como eu a batizei - parecia extramente viva. Toda sua leveza contribuía para que eu finalmente sentisse que estar ali nos Asfódelos era bom, pelo menos enquanto eu a observava mover-se lentamente adentro das árvores mortas no Oeste do Campo.
Seus olhos, verdes, pareciam também vivos. Refulgiam tanto a cada olhar que pareciam feitos de luzes neon; seu olhar também era assustador, carregado de uma possível frustração passada. Mas, o que isso me importava agora? Afinal, ambos estávamos mortos.
Mas então foi quando percebi: Não era uma moça qualquer. Não era Mary. Não era apenas uma morta que chegara aos Asfódelos, igual acontece todos os dias em massa. Era ela. Era o meu amor.
Olhei-a, então, atônito, mais bobo que antes, pensando. Eu sabia, de fato, que um dia ela chegaria. Ela morreu, então, vinte sete anos após a morte, e como pôde ter chegado aos Asfódelos tão bela, talvez até mais bela do que quando viva?
Foi quando eu me dei conta que permanecia apaixonado irrevogavelmente por Sally. Foi quando eu me dei conta que o juramento "até que a morte nos separe" é pura mentira.


Clique aqui para ler "Asfódelos I".