Soneto II

A imagem distorcida de minh'alma ainda refulge na escuridão
Bravos sonhos, perdidos! Perdidos estão meus anseios
Ainda que eu andasse na mais sombria terra, jamais sentiria um outro desejo
Sequer eu sinto outra coisa a não ser profunda insatisfação

Horrenda dança varre minhas aventuradas memórias
Oh, deus que cobre-nos com tua infinita bondade!
Ainda que eu jamais possa encontrar um resquício de glória
De minha antiga e pacata vida sentirei saudades

Nunca vi algo parecido, vós quereis aterrar-me vivo!
Oh, lamentais! Lamentais por minh'alma que vaga com sofreguidão
Correis para longe, asqueroso espírito
Correis para longe, espírito de indignação!

Gélida lufada de ar invade-me o pulmão
Tento fugir, mas ainda não tenho sequer motivação
Deito-me na quietude do mais arrepiante negrume
E logo vem-me à essência a sólida sensação, a sólida solidão...

Percebo através do mais distante astro que cintila onde meu pai descansa
Oh, figura que fulgura! Oh, figura tão cruel que me assusta
Ainda que em minha terra algo normal seja a fria vingança
As deusas do bosque que buscam por morte nunca estiveram mais astutas

Peço, ainda, pela vida do mais raro peixe do Mar Vermelho
Não deixeis que eu vá! Não deixeis-me partir!
Pois embora na escuridão eu só encontre desespero
É aqui, só aqui, onde eu consigo finalmente dormir.

- por Guilherme Espinosa, 26/05/10

2 opiniões:

Ana Luiza disse...

Perfeito!
Intertextualidade Grega Total! 8)
(y)

Carina Bickel disse...

Simplesmente lindo!
O som das palavras complementaram o soneto, e tudo combinou perfeitamente, parabéns (y)

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